Meu nome é Selene, sou artista visual, mestre em Poéticas Visuais pela ECA/USP. Trabalhando com vídeo, fotografia e escrita, encontrei na joalheria um espaço para me conectar com as transformações da matéria. Vejo o ofício da joalheria como uma festa: as verdadeiras celebrações não estão a serviço de nada. Não cumprem uma demanda, não são feitas para serem produtivas. São comemorações com os outros, com nós mesmos. Um tempo que nasce dentro do tempo. Joias que surgem das mãos são festas para adornar o corpo, exercícios simbólicos que trazem a beleza de não cumprir uma função específica. Diferente das roupas, que junto com a beleza e o simbólico também têm as funções de cobrir, esquentar, proteger etc., o metal transformado pode apenas se acoplar em nós e passear. Pássaros voam no pescoço, um braço é uma rocha para cracas do mar se expandirem, uma flor desponta do furo da orelha. O corpo se torna um lugar onde diferentes mundos e habitats podem convergir. Um oceano pode ser uma galáxia na pele. O fio fino e a pedra de milímetros podem ser gigantes com nosso olhar.
Em uma época em que tendemos a medir tudo, de número de passos a horas de sono REM ou profundo, macronutrientes, copos d'água, batimentos cardíacos, o tempo vai parecendo uma linha, uma sucessão de números. Às vezes, é bom soltar a mão desse tempo e deixar que ele seja um pouco em espiral, um pouco em festa. As joias, com seu brilho magnético e seu não-servir, podem nos lembrar disso.
